Eu jamais poderia imaginar que aos quatorze anos de idade eu iria conhecer o homem da minha vida (ou, naquela época, o projeto dele). Tudo culpa da Fernanda, sempre muito impetuosa e ligeira. E se tratando de bancar a cupida não poderia ter sido diferente.
Reza a lenda, que um dia Fernanda, como boa prima que é, soprou no ouvido dele assim: "Sabe a Flávia? É a Flávia, essa mesma. Pois é ela tá interessada." Grande amiga eu tinha... e tenho! Por causa desse sopro um tanto quanto pretensioso, ele foi dormir pedindo a Deus que desse uma "forcinha" pra dar certo. Demorou quase dois meses... mas não foi que deu? Eu sou a mulher que ele, literalmente pediu pra Deus!
Fatídica formatura do 3º ano dele. Eu queria e não queria ir. Vontade, vergonha, desejo, medo, ousadia, constrangimento, cara-de-pau... e eu que achava que aquela era só mais uma festa do meu mundinho adolescente! Poucas pessoas saberão a tamanha vergonha que é sentar-se numa mesa com os familiares do cara, sem nem ao menos ter trocado uma palavra sequer na vida e fazer cara de paisagem, como se tudo fosse tudo, nada fosse nada... tá tudo muito bem, tá tudo muito bom! E o pior é que estava!
Foi ai que tudo começou, foi ai que não parou mais. Talvez certas coisas, aquelas mais profundas do âmago do nosso ser, tenham demorado para serem compreendidas. Ou talvez nem tenha demorado tanto assim: tempo é uma coisa muito relativa, muito mesmo, em que cada um sabe o relógio que tem dentro de si. Pra ele, admitir que sentia alguma coisa era inaceitável. "Não, eu não gosto não. É só diversão". Até que chega aquele dia que você vê aqueles olhos marejados te dizerem "Quando eu dei por mim, eu não queria fazer outra coisa que não fosse estar com você"!
Idas e vindas... eu costumava dizer que a minha vida acontecia de seis em seis meses. Eram tantas emoções num mesmo período, que eu custava a me restabelecer do furacão que era vê-lo chegar e partir tão rápido. Não, nunca foi fácil. Eu chorei de mais... nos desgastamos. Resolvemos que o melhor a fazer era deixar que aquele relógio interno ditasse qual era a boa da vez. Ele lá e eu de cá. Mas uma linha tênue ainda permanecia intacta. Talvez adormecida, talvez no meio de cada coisa que cada um fazia, talvez... no mesmo lugar que sempre estivera. O que eu sei dizer é que ela não se arrebentou. Manteve-se elegantemente nas nossas vidas, pra mostrar que chega um dia em que as coisas... tudo o que já se passou tem que fazer sentido.
Hoje eu tenho apenas quinze dias de "solidão", no auge dos meus vinte anos pra curtir. Sim, eu ainda tenho quinze dias de espera, mas a espera já foi tão grande, que de tão grande, eu já nem sei mais contá-la. Tenho a certeza que ela só não foi maior que tudo o que eu tenho hoje. A espera não foi maior do que tudo o que nós ainda vamos ser juntos!